Leonardo Sakamoto
Blog do Sakamoto.
“Greve
é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para
a população, e já foi muito incomodada pela onda de greves dos funcionários
públicos e não merece ser mais incomodada com uma paralisação dos
bancários.”
A declaração acima é de Magnus Ribas Apostólico, diretor de
Relações do Trabalho da Fenaban, braço sindical da Federação Brasileiros de
Bancos responsável pelas questões de disputas trabalhistas.
Posso
reescrever o parágrafo com a visão do outro lado?
“Greve é ruim para todo
mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que
já foi muito incomodada pela incapacidade do governo federal em negociar com os
funcionários públicos em greve e não merece ser mais incomodada com uma negativa
dos banqueiros em dividir melhor os lucros e garantir condições de
trabalho.”
Quando negociações trabalhistas chegam a um limite e uma greve
é deflagrada, começa uma guerra de discursos, o que é esperado. E interessante.
Afinal de contas, aprendemos novas formas de moldar a língua portuguesa para
servir aos nossos interesses.
Gostaria de ver como profissionais cuja
matéria-prima é o discurso se comportariam em greve geral. Como já disse aqui um
rosário de vezes, tenho certa inveja das categorias de trabalhadores que se
enxergam como tais e se unem para reivindicar e lutar pelos seus direitos. Sim,
porque nós, jornalistas, como todos sabem, não somos trabalhadores, estamos
acima de toda essa coisa mundana. Salário? Para quê? Uma vez que somos seres
iluminados, nada mais lógico do que vivermos de luz…
No caso de greves
envolvendo o sistema financeiro, dado os anúncios de lucros bilionários
divulgados a torto e a direito, essa guerra de discursos tende a colocar
banqueiros contra a parede. Daí a necessidade de adotar uma postura mais
agressiva, como jogar a população contra os grevistas a exemplo do que fez o
diretor da Fenaban.
A evolução histórica do nosso querido capitalismo
mostra que não importa o que aconteça, os donos do sistema financeiros sempre
ganham. A indústria pode virar fumaça, a agricultura comer grama pela raiz e o
setor de serviços fechar as portas, mas os bancos sobrevivem. Sendo salvos com
recursos públicos, se preciso. Afinal de contas, os lucros deles é privado, mas
o prejuízo é sempre socializado.
De acordo com o Sindicato dos Bancários
de São Paulo, Osasco e Região, a proposta patronal de 0,58% de aumento real
(descontada a inflação) foi considerada insuficiente. A demanda é por 5%, além
de um implemento do plano de cargos e salários, mais segurança nas agências e
maior participação nos lucros. Em nota, Juvandia Moreira, presidente do
sindicato, afirma que nos “balanços dos sete maiores bancos do país, entre o
primeiro semestre de 2011 e o de 2012, os ativos cresceram em média 15,56%, as
operações de crédito subiram 18,63%, o patrimônio líquido aumentou
12,65%”.
Já a Fenaban afirma que a proposta global corrigirá salários,
pisos, benefícios. Também diz que estão previstos reajustes do auxílio refeição,
da cesta alimentação e do auxílio creche mensal. Promete que o valor da
Participação nos Lucros e Resultados pode ultrapassar o equivalente a três
salários de um caixa de banco.
Esperemos que a paralisação dure o menos
possível e que um acordo seja logo alcançado. Enquanto isso, um pouco de
paciência. Muita gente deve estar pensando “vagabundo que faz greve deveria ser
demitido”, esquecendo que – dessa forma – joga pela janela uma das mais
importantes formas de pressão: negar-se a gerar riqueza para a empresa enquanto
seu contrato de compra e venda da força de trabalho não for
rediscutido.
Sindicatos não são perfeitos, longe disso. Assim como
ocorrem em outras instituições, eles possuem atores que resolvem voltar-se para
os próprios umbigos e tornar a busca pelo poder mais importante que os objetivos
para o qual foram escolhidos. Estamos cheios de exemplos disso. Contudo, graças
à organização e pressão dos trabalhadores, importantes conquistas foram obtidas
para civilizar minimamente as regras do jogo – não trabalhar até a exaustão,
descansar de forma remunerada, ter salários (menos in)justos, garantir proteção
contra a exploração infantil. Direitos estes que, mesmo incompletos, são
chamados por alguns de “gargalos do crescimento”.
Apoio os professores
federais, funcionários públicos, controladores de vôo, cobradores e motoristas
de ônibus, bancários, eletricitários, metalúrgicos, metroviários, garis,
residentes médicos. Apoio o santo direito de se conscientizarem, reconhecerem-se
nos problemas, dizer não à exploração e entrar em greve até que a sociedade
pressione e os patrões escutem. Mesmo que a manifestação deles torne minha vida
um absurdo.
E torço para que você não consuma bovinamente discursos que
demonizam greves. Porque, se assim for, no dia em que precisar que a sociedade
entenda a sua reivindicação, pode perceber que está sozinho, gritando ao vento.
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